Em 1937, na sua encíclica Mit Brennender Sorge [Com Ardente Preocupação], Pio XI denunciou a perseguição dos católicos alemães pelo nazismo, e condenou o culto do Estado e da Raça como uma idolatria incompatível com a fé cristã. Ela foi lida em todas as Igrejas Católicas da Alemanha (onde tal foi possível). Há quem defenda que esta encíclica explicitamente crítica do estado das coisas na Alemanha, por que não citar o nome de Hitler ou o nazismo, não ataca nenhum dos dois. Na época ninguém teve essas dúvidas. E que alguém as possa ter hoje parece incrível, mas é verdade. O papa dá-se ao trabalho de escrever um carta (encíclica) em alemão (uma língua difícil), dirigida aos católicos alemães, sobre a situação dos católicos na Alemanha, lida nas igrejas católicas alemãs, a denunciar o racismo e o totalitarismo de Estado, e não tinha o nazismo, que estava então no poder na Alemanha e que era ambas as coisas, como alvo! Parece uma coincidência um bocadinho inconcebível. Mas o anticatolicismo primário não se detém perante pormenores factuais como este.
De acordo com o mesmo raciocínio, o Vaticano também nunca se opôs a Estaline ou a Lenine visto que nenhum dos dois é citado nominalmente na encíclica Divini Redemptoris, também de 1937, atacando o comunismo. Na verdade as encíclicas não citam por regra estadistas presentes. Além de o nazismo (há apenas quatro anos no poder) ter então, e ainda hoje, um estatuto doutrinal mais ambíguo que o comunismo, havia ainda um pequeno problema prático: atacar explicitamente Hitler e o Partido Nazi na Alemanha em 1937 era um crime. Pio XI exigiu grande coragem dos padres e bispos alemães que leram a encíclica, pedir-lhes que cometessem suicídio talvez fosse um bocadinho demais.
Em 1938 Pio XI afirmou numa mensagem aos peregrinos belgas que o visitavam: "Abraão é o nosso Patriarca e origem. O anti-semitismo é incompatível com o venerável facto que tal representa. É um movimento com o qual nós, cristãos, nada podemos ter a ver. Não, não, digo-vos, é impossível a um cristão aderir ao anti-semitismo. É inadmissível. Por Cristo e em Cristo somos os descendentes espirituais de Abraão. Espiritualmente, nós somos todos semitas."
Pio XI, apesar de já estar mortalmente doente, empenhou-se em combater as leis raciais italianas de 1938, tendo o Vaticano e a imprensa católica levou a cabo uma campanha contra elas. O embaixador português tem por esta altura uma derradeira audiência com o papa. Eis o registo que deixou do essencial das palavras de Pio XI: "«Resista, Portugal, e defenda-se de certas insinuações, insinuações pérfidas» (absolutamente textual) «que podem prejudicá-lo gravemente e tendem à desorganização do mundo e à desorientação das almas. É preciso que resista», diz o Santo Padre, com os olhos firmados nos meus, energicamente. Aproveitei um instante de silêncio para intervir, dizendo: Portugal resiste e resistirá porque é cristão e tem quem o dirija. Pio XI repete: «mas aquelas insinuações ne sont pas que trop perfides et dangereuses.» Portugal, digo eu, conhece bem o veneno do bolchevismo. Então o papa - sem a menor surpresa para mim, seja dito - interrompe e diz, com firmeza e uma pontinha de contrariedade: «Mas eu não me refiro ao comunismo, refiro-me ao racismo, ao nazismo criminoso que perverte as almas …, etc.» Calei-me […] numa expressão de filial e respeitoso interesse por todas as invectivas de Sua Santidade contra o regime alemão…"
Pio XI, apesar de já estar mortalmente doente, empenhou-se em combater as leis raciais italianas de 1938, tendo o Vaticano e a imprensa católica levou a cabo uma campanha contra elas. O embaixador português tem por esta altura uma derradeira audiência com o papa. Eis o registo que deixou do essencial das palavras de Pio XI: "«Resista, Portugal, e defenda-se de certas insinuações, insinuações pérfidas» (absolutamente textual) «que podem prejudicá-lo gravemente e tendem à desorganização do mundo e à desorientação das almas. É preciso que resista», diz o Santo Padre, com os olhos firmados nos meus, energicamente. Aproveitei um instante de silêncio para intervir, dizendo: Portugal resiste e resistirá porque é cristão e tem quem o dirija. Pio XI repete: «mas aquelas insinuações ne sont pas que trop perfides et dangereuses.» Portugal, digo eu, conhece bem o veneno do bolchevismo. Então o papa - sem a menor surpresa para mim, seja dito - interrompe e diz, com firmeza e uma pontinha de contrariedade: «Mas eu não me refiro ao comunismo, refiro-me ao racismo, ao nazismo criminoso que perverte as almas …, etc.» Calei-me […] numa expressão de filial e respeitoso interesse por todas as invectivas de Sua Santidade contra o regime alemão…"
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