ZWÍNGLIO, (1484-1531). Após a sua formatura de Mestre em Artes serviu a Igreja Romana como capelão. Porém, a leitura de Erasmo despertou-lhe o interesse pela Bíblia. Iria acontecer o inevitável. Em 1517 reprovou as peregrinações a um altar da Virgem Maria a fim de receberem o perdão dos pecados. No início de 1519, Zwínglio foi chamado para pastorear em Zurique. Ali levantou a sua voz acerca da autoridade exclusiva da Bíblia. Tal como Lutero, ele preparou um documento de 67 Artigos para um debate com as autoridades católicas, onde ele sozinho enfrentaria a todos.
Naquele documento de 67 Artigos, Zwínglio insistia na autoridade da Bíblia, na supremacia de Cristo, na salvação pela fé, e no direito ao casamento dos sacerdotes. Além disso, condenava fortemente as práticas romanas não apoiadas pela Bíblia e suprimiu a missa. Por fim, o conselho da cidade decidiu aprovar a tese de Zwínglio que ganhou logo foro de legalidade. As taxas de batismo e sepultamento foram abolidas. Monges e freiras receberam permissão de se casarem. As imagens e relíquias de culto foram retiradas e proibidas. Os cristãos começaram a celebrar a Santa Ceia em ambas as espécies. E pregadores leigos levavam as suas doutrinas por todas as regiões da Suíça.
Enquanto Lutero conservou o que a Bíblia claramente não proibia, Zwínglio suprimiu tudo aquilo que a Bíblia não mencionava. Sob sua orientação, a Bíblia foi traduzida para a língua do povo. Ele enfraqueceu as finanças romanas pela suspensão dos dízimos.
Em 1522 separou-se definitivamente de Roma e estabeleceu-se em Zurique como líder do movimento reformador mais radical do que na Alemanha. Em 1525 a reforma estava completa com a supressão da missa. Zwínglio também afirmava que a última palavra pertencia à comunidade cristã, a qual cumpriria o seu dever através dum governo eleito cuja ação se basearia na Bíblia. Ali, Igreja e Estado estiveram unidos teocraticamente por muito tempo.
Zwínglio foi o maior humanista dos reformadores. Era sua opinião que homens como Sócrates e Platão, Sêneca e Cipião estariam no céu. Ele aceitava a predestinação incondicional para a salvação, segundo a qual somente aqueles que rejeitassem a oferta do evangelho estavam condenados à condenação. Igreja e Estado estavam teocraticamente unidos no exercício da autoridade com base na Bíblia e na eleição dos cristãos.
A princípio, Zwínglio contou com a colaboração de Lutero, mas as suas ideias divergentes separaram-nos. Eles discordavam sobre os elementos da Santa Ceia. Enquanto Lutero ainda cria que Cristo estava presente nos elementos, Zwínglio afirmava que eram simplesmente a comemoração do sacrifício de Cristo. Se lhe contrapunham as palavras de Cristo “este é o meu corpo” significa que é o seu corpo, Zwínglio respondia desta maneira: Então, “Eu sou a porta” quererá dizer uma porta literal? Ou, “Eu sou a vinha” significará a vinha literal? Certamente que não.
Certa vez foi organizada uma conferência, em 1529, com a finalidade de chegarem a acordo. Estiveram presentes Lutero, Melanchton, Zwínglio e outros teólogos importantes. Lutero começou escrevendo na mesa as palavras de Cristo: “Este é o meu corpo” afirmando que não se afastaria delas. Embora Melanchton se esforçasse pelo acordo, não o conseguiu, e cada grupo seguiu o seu destino separado como dantes.
Além disso, Zwínglio afirmava que as crianças seriam salvas mesmo sem o baptismo, enquanto Lutero prevalecia na necessidade do baptismo das crianças.
No seu livro, “Verdadeira e Falsa Religião” (1525) expressou o seu ponto de vista bíblico e cristocêntrico. A Suíça não pode esquecer a acção de Zwínglio, erudito, democrático e sincero, na sua libertação das garras do papado.
Em 1531, na tentativa de conquistar Genebra para o seu lado, Zwínglio juntou-se aos soldados como capelão e morreu em combate. Esta guerra civil entre cantões católicos e protestantes dificultou o progresso do movimento.
DEBATE PÚBLICO DE ZWÍNGLIO
67 teses
A primeira disputa em Zurique, a 29 de Janeiro de 1523, foi também a ocasião para Zuínglio tornar públicos os seus 67 pontos sobre contencioso com a igreja romana. O Concílio da cidade de Zurique não somente aceitou o documento de Zuínglio, mas encorajou o pastor a continuar com a sua pregação. Muito do ensinamento de Zuínglio, excepto acerca da eucaristia, era uma expansão destes pontos. Assim, eram uma das primeiras tentativas na teologia sistemática da vida total, distintas das 95 teses de Lutero, limitadas a algumas questões. O que segue são exemplos:
1. Todos os que dizem que o evangelho é inválido sem a confirmação da igreja erra e difama a Deus.
2. A essência e a substância do evangelho é que nosso Senhor Jesus Cristo, o verdadeiro filho de Deus, tem-nos manifestado a vontade de seu pai celestial, e com a sua inocência libertou-nos da morte e reconciliou-nos com Deus.
3. Deste modo, Cristo é o único caminho para a salvação para todos os que já foram, são e serão.
4. Aquele que busca outro caminho erra, e, na verdade, é um assassino e ladrão de almas. 5. Por isso, todos os que consideram outros ensinos iguais ou mais elevados do que o evangelho erram, e não sabem o que o evangelho é.
6. Porque Jesus Cristo é o guia e líder prometido por Deus a toda a humanidade, cuja promessa foi cumprida.
7. Ele é salvação eterna e cabeça de todos os que crêem; estes são o Seu corpo, pois o seu próprio corpo humano está morto. Nada é proveitoso sem Ele.
8. Disto, segue-se primeiro que todos os que habitam na cabeça (i.e. Cristo) são membros e filhos de Deus, formando a igreja, ou comunhão dos santos, a qual é a noiva de Cristo, ecclesia catholica.
9. Além disso, como os membros do corpo não podem funcionar sem o controle da cabeça, também ninguém no corpo de Cristo pode fazer qualquer coisa sem a sua cabeça, Cristo.
10. Visto que esse homem é louco, cujos membros (experimente) fazem alguma coisa sem a cabeça, rasgar, magoar, ferir-se, assim, quando os membros de Cristo realizam alguma coisa sem a sua cabeça, Cristo, eles são estúpidos magoando-se e sobrecarregando-se com leis loucas.
13. Se alguém quer ouvir, pode aprender clara e plenamente a vontade de Deus, e pelo Seu Espírito ser levado a Ele e através dele tornar-se um homem transformado.
14. Contudo, todos os cristãos devem diligenciar fortemente para que o evangelho de Cristo seja pregado em todo o lugar.
15. Porque a nossa salvação apoia-se na fé, e a condenação na incredulidade; pois toda a verdade está clara nele.
18. Cristo, tendo-se sacrificado uma vez por todos, é por toda a eternidade uma perpétua e aceitável oferta pelos pecados de todos os crentes, pelo que é compreensível que a missa não é um sacrifício, mas uma comemoração do sacrifício e segurança da salvação que Cristo nos tem dado.
19. Cristo é o único mediador entre Deus e nós mesmos.
20. Deus dar-nos-á todas as coisas em seu nome (Cristo), daí se compreende que, pela nossa parte, após esta vida, não necessitamos outro mediador senão Ele.
35. Visto isso, a jurisdição e a autoridade do poder secular estão baseados nos ensinamentos e ações de Cristo.
36. Todos os direitos e proteção que a chamada autoridade espiritual reclama pertencem aos governos seculares, contanto que sejam cristãos.
37. A esses, igualmente, todos os cristãos devem obedecer sem excepção.
38. Isto, enquanto não ordenarem o que é contrário a Deus.
39. Além disso, todas as suas leis devem estar em harmonia com a vontade divina, de modo que protejam os oprimidos, mesmo que estes não se queixem.
40. Só eles (i.e. os governantes) têm o direito de aplicar a pena de morte sem provocar a ira de Deus sobre eles mesmos, e somente para aqueles que têm ofendido a ordem pública.
41. Se eles derem bons conselhos e ajuda àqueles por quem devem responder perante Deus, então estes devem-lhes assistência material.
42. Mas se forem infiéis e transgredirem as leis de Cristo devem ser depostos de acordo com a vontade de Deus.
49. Não conheço escândalo maior do que os sacerdotes não terem permissão a tomar esposas legítimas, mas poderem manter amantes se pagarem bem.
56. Quem quer que perdoe qualquer pecado, somente por causa do dinheiro, é companheiro de Simão (Mago) e Balaão, e verdadeiro mensageiro do diabo.
57. As verdadeiras Sagradas Escrituras não fazem referência ao purgatório após esta vida. 58. O destino dos mortos é unicamente do conhecimento de Deus.
59. E quanto menos Deus nos tem permitido conhecer a respeito disso, menos nós devemos intentar saber.
60. Eu não rejeito a oração humana a Deus para mostrar graça aos que partiram; mas fixar um tempo para isto e mentir por causa do lucro não é humano, mas demoníaco.
67. Se alguém deseja discutir comigo acerca de benefícios, dízimos, crianças não batizadas, ou confirmação, estou pronto para responder.