A Diferença Entre o Perverso e o Justo
Por Mons. Dom José Kennedy de Freitas - Ph. D
Bispo de Confissão Anglicana
Referência: Malaquias 3.13-18
INTRODUÇÃO
1. As aparências enganam: as coisas não são o que parecem serDo lado de cá da sepultura, muitos perversos parecem felizes e prósperos e muitos justos parecem afligidos e oprimidos financeiramente. Será esta a realidade final e eterna?
Lucas 16:19-31 nos informa que do outro lado da sepultura, na eternidade, esse quadro é alterado. O mendigo é consolado, o rico atormentado.
2. As reações diferem-se: uns obedecem, outros escarnecem
Em Malaquias 3:10-12 Deus desafia o povo a entregar os dízimos e faz promessas de abrir-lhes as janelas do céu. Os justos obedecem, os perversos escarnecem. A Palavra de Deus é espada de dois gumes: propõe o caminho da vida ou da morte; oferece bênção ou maldição.
3. As sentenças finais separarão os perversos dos justos
Agora o perverso pode prosperar, pode escapar, pode parecer feliz. Mas como ele ficará no dia do juíz? Onde estará seu dinheiro? Onde estará sua aparente felicidade? Onde estará sua segurança?
Agora, o justo pode ser afligido, mas no dia final ele será recompensado por Deus, eternamente.
Vejamos quais são as diferenças entre o perverso e o justo, agora e na eternidade.
I. O PERVERSO AFRONTA A PESSOA DE DEUS – v. 13
1. Atrevimento espiritual – v. 13a“As vossas palavras foram duras para mim, diz o Senhor”.
Algumas pessoas reagiram ao desafio e às promessas de Deus (Ml 3:10-12), com insolência, atrevimento e palavras pesadas.
Esse grupo negou que fosse verdade o que Deus disse. Eles insultaram a Deus. Tentaram colocar Deus contra a parede. Eles falaram mal de Deus. As conversas irrefletidas tinham minado a moral. A boca fala aquilo de que o coração está cheio.
O homem sempre se insurge contra Deus: A filosofia humanista no século XVIII: David Hume dizia que quem queimava um livro de Teolgia era um benemérito. Nietzche disse que Deus morreu. O livro Código Da Vinci é o mais vendido hoje no mundo. O livro mais lido hoje na França é de um filósofo ateu que escarnece de Deus.
2. Anestesiamento espiritual – v. 13b
“… mas vós dizeis: Que temos falado contra ti?”
Pior do que falar contra Deus, é fazê-lo e não se dar conta da gravidade do fato. A cauterização da consciência é um estágio ainda mais avançado da corrupção do pecado.
Os que menos se afligem com seus pecados são aqueles que mais chafurdados neles estão.
II. O PERVERSO EQUIVOCA-SE SOBRE A PROVIDÊNCIA DE DEUS – v. 14-15
1. É inútil mesmo servir a Deus? – v. 14“Vós dizeis: Inútil é servir a Deus; que nos aproveitou termos cuidado em guardar os seus preceitos e em andar de luto diante do Senhor dos Exércitos?”
A palavra proveito normalmente já traz em si uma forte conotação de mal, mostrando que não eram sinceros no culto que prestavam ao Senhor. A sua glória e não a de Deus, era o que buscavam.
Os perversos estavam enganados: 1) Quanto a eles mesmos; 2) Quanto a Deus. Na verdade eles não guardavam os preceitos de Deus nem se quebrantavam diante de Deus. Eles estavam enganando seus próprios corações. Eles não amavam a Deus, mas a si mesmos. Eles não buscavam piedade, mas o lucro. Eles não adoravam a Deus, mas o dinheiro. Por isso, eles fizeram duas observações equivocadas:
a) Não há proveito na obediência a Deus (v. 14a)
Eles distorceram o sentido da religião. Eles fizeram da religião um negócio, uma barganha, um comércio com Deus. Eles estavam trazendo dízimos e ofertas por motivações egoístas, buscando apenas vantagens imediatas. Eles corromperam o culto.
Nós servimos a Deus não pelo que ele nos dá, mas por quem ele é. Assim fizeram os três amigos de Daniel que foram jogadas na fornalha.
Ananias e Safira contribuíram na igreja com propósitos gananciosos e foram mortos.
Simão, o mago quis comprar o poder de Deus por dinheiro. Deus quer o coração. Se o nosso coração for de Deus, o dinheiro não será o dono da nossa vida.
b) Não há benefício no quebrantamento espiritual (v.14b)
A religião deles era um negócio, uma barganha, uma negociata com Deus. O centro do culto não era Deus, mas eles mesmos.
Eles estavam se quebrantando, chorando, jejuando e não viam resultados dessa prática. Por que? É que manifestação externa de quebrantamento sem arrependimento interno, profundo, não tem valor aos olhos de Deus.
Veja Isaías 58:2-7
Veja Joel 2:12-14
Veja Mateus 23:23.
2. O perverso é feliz mesmo? – v. 15
“Ora, pois, nós reputávamos por felizes os soberbos”.
A visão deles era míope. A leitura deles estava errada. O juízo de valor que faziam sobre os ímpios estava equivocado. Eles pensaram que o sucesso segundo o mundo produz felicidade. Eles pensavam que a felicidade está no dinheiro e não em Deus.
O perverso não é feliz. Ele pode ter dinheiro, mas não felicidade. Ele pode comprar uma casa, mas não um lar. Ele pode comprar alimentos requintados, mas não apetite. Ele pode comprar os melhores planos de saúde, mas não saúde. Ele pode ter um rico funeral, mas não comprar o céu.
Para o perverso não tem paz. Quem quer ficar rico cai em muitas ciladas e afora sua alma em grande angústia.
A afirmação de que o perverso é feliz está equivocada por duas razões: 1) Nós não podemos sondar o coração do perverso; 2) Nós teremos esquecido o futuro.
3. O perverso é próspero mesmo? – v. 15b
“… também os que cometem impiedade prosperam”.
A prosperidade do ímpio sempre foi uma questão que afligiu o povo de Deus. Jó lidou com essa tensão (capítulo 21). Asafe enfrentou esse problema (Salmo 73).
Esse problema é atual. A prosperidade de pessoas desonestas é flagrante. A corrupção está no DNA da Nação. As pessoas que trabalham com honestidade, muitas vezes sofrem, enquanto aqueles que subornam e corrompem crescem. Estamos assistindo com tristeza o profundo poço de lama nas CPI’s .
Mas a prosperidade do ímpio não é sinal de segurança.
A prosperidade do ímpio não é sinal de felicidade.
A prosperidade do ímpio não é sinal do agrado de Deus. Devemos considerar algumas coisas:
a) Deus merece o nosso amor pelo que é e não pelo que pode nos dar
b) A situação presente é transitória
c) A nossa recompensa está no céu.
4. O perverso que tenta a Deus escapa mesmo? – v. 15c
“… sim, eles tentam ao Senhor e escapam”.
O juízo de Deus parece tardio – Nem sempre Deus acerta conta com o perverso no instante da sua transgressão. Às vezes parece que Deus está dormindo (Sl 73:20), porém quando Deus se desperta, ele destrói os infiéis (Sl 73:27). Não é verdade que o perverso escapa ileso. A queda de Adão, o dilúvio, Somoda e Gomorra, o cativeiro de Israel revelam que Deus não deixa impune o perverso.
Asafe diz: “Certamente tu os pões em lugares escorregadios, tu os lanças para a ruína. Como caem na desolação num momento! Ficam totalmente consumidos de terrores” (Sl 78:18,19).
Deus entrega o perverso a si mesmo (Rm 1:24,26,28).
O juízo de Deus é inexorável – Os perversos não escaparão do juízo de Deus: “Pois eis que vem o dia e arde como fornalha; todos os soberbos e todos os que cometem perversidades serão como o restolho; o dia que vem os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo” (Ml 4:1).
III. O JUSTO TEM UMA RELAÇÃO CERTA COM DEUS MESMO NA ADVERSIDADE – v. 16
1. O justo é intimamente piedoso – v. 16c“… e para os que se lembram do seu nome”.
O perverso só se lembra do Senhor para falar-lhe palavras pesadas, mas o justo lembra-se de Deus para deleitar-se nele, refugiar-se nele e viver para o seu agrado.
A meditação do justo o leva para a intimidade de Deus, enquanto os pensamentos do perverso o afastam de Deus.
2. O justo é pessoalmente sincero – v. 16a
“Então, os que temiam ao Senhor [...] havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao Senhor”.
O justo tem reverência por Deus. Eles são leais e verdadeiros em sua fé. O temor a Deus é a fonte secreto, o poder íntimo da vida santa.
3. O justo é abertamente encorajador do próximo – v. 16b
“… falavam uns aos outros…”.
O justo não apenas anda com Deus, mas encoraja outros também a andar. Ele não é apenas receptáculo, mas canal. Ele não é apenas abençoado, mas abençoador.
Precisamos fortalecer uns aos outros em tempos de crise e apostasia. O verdadeiro vencedor é aquele que encoraja outros a vencerem com ele (Davi encoraja o exército de Saul a vencer).
A melhor vitória é aquela que compartilhamos com outros. Exemplo: A olímpiada dos deficientes físicos em Seaton.
IV. O JUSTO SERÁ RECOMPENSADO POR DEUS NO JUÍZO – v. 16-18
1. Deus ouve sua conversação – v. 16“… O Senhor atentava e ouvia…”.
O justo em vez de falar contra Deus como o perverso, ele fala de Deus aos irmãos.
Deus escuta nossas palavras. Deus valoriza nossas palavras. Deus dá importância ao que fazemos e falamos. No dia do juízo nossas palavras nos justificarão ou nos condenarão.
Deus está atento ao que acontece com você. Ele sabe quem é você, o que está acontecendo com você, onde você está, o que você deve fazer, e para onde você deve ir.
2. Deus relembra suas obras – v. 16
“… havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao Senhor”.
Os monarcas terrenos recordavam as obras e relembravam os nomes de seus servos fiéis. De igual forma, o Senhor dos senhores, guarda em seu livro um memorial do seu povo. Até um copo de água fria que você der a alguém em nome de Cristo não ficará sem recompensa (Mc 9:41).
Os que a muitos conduzir à justiça, brilhará com o sol no firmamento (Dn 12:2).
Aqueles que têm seu nome no livro da vida, têm grande alegria e entrarão na cidade de Deus.
3. Deus os poupará como filhos amados – v. 17
“… poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve”.
Se nós que somos maus, amamos nossos filhos e damos boas dádivas aos nossos filhos, quanto mais Deus! Ele já nos deu Jesus e nos com ele todas as demais coisas (Rm 8:32).
Salmo 103:13: “Como um pai se compadece dos seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem”.
Enquanto os perversos serão como restolhos lançados na fornalha, os justos receberão um novo corpo, um novo nome, uma nova pátria, serão vestidos de branco, coroados, recebidos no Reino, para reinarem com Cristo eternamente.
Seremos poupados de toda dor, sofrimento, lágrimas, luto e morte.
4. Deus os recompensará no juízo – v. 17
“Eles serão para mim particular tesouro, naquele dia que preparei, diz o Senhor dos Exércitos”.
Você é o tesouro de Deus, a herança de Deus, a menina dos olhos de Deus, a delícia de Deus. Deus se delicia em você. Ele tem todo o seu prazer em você.
Naquele dia, enquanto os perversos vão perecer eternamente (Mt 25:46), nós seremos a particular tesouro de Deus.
Enquanto a Grande Meretriz será lançada no lago do fogo, nós como Noiva do Cordeiro, entraremos para as bodas. Enquanto a Grande Babilônica entra em colapso, a Nova Jerusalém desce do céu.
Enquanto os perversos enfrentarão os tormentos do inferno, os justos estarão no Seio de Abraão (Lc 16:19-31).
Enquanto os perversos ressuscitam para o juízo, os justos ressuscitam para a vida eterna.
Enquanto os perversos serão lançados no lago do fogo, os justos, cujos nomes estão no livro da vida, entrarão no céu.
Enquanto os perversos ouvirarão: “Apartai-vos”, os justos ouvirão: “Vinde benditos de meu Pai, entrai na posse do Reino”. Naquele dia ficará provado que é falsa a acusação de Malaquias 2:17: “… qualquer que faz o mal passa por bom aos olhos do Senhor, e desses é que ele se agrada”.
CONCLUSÃO
1. Aqueles que falam contra Deus, terão que enfrentá-lo no dia do juízoO mundo está cheio de pessoas de desandam a boca para blasfemar contra Deus. Eles blasfemam e prosperam. Eles zombam e escapam. Mas até quando?
2. Aqueles que zombam de Deus, verão que ele não acerta as contas todos os dias
O perverso por um momento fala contra Deus, tenta a Deus e ainda prospera e escapa, mas um dia Deus vai chamar esse perverso para prestar contas.
Naquele dia o perverso será como restolho, chocho, vazio, sem valor.
3. Aqueles que pensam que o mal compensa, um dia saberão a diferença entre o justo e perverso
O dia do juízo será trará à luz o pleno entendimento, que de nada adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma. De nada adianta viver no fausto aqui, e perecer eternamente.
O dia do juízo vai revelar que vale a pena servir a Deus e andar com ele!
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