Num rito sumário, o menino Marcelo Pesseghini, de apenas 13 anos, foi julgado e condenado pela polícia de São Paulo; apontado como responsável pela morte dos pais e de outros parentes antes de supostamente se suicidar, ele não teve chance de defesa; menos de 24 horas depois, no entanto, começam a aparecer os primeiros furos na investigação oficial; o vídeo divulgado pela polícia não mostra Marcelo dirigindo o carro da mãe; um outro policial afirma que a mãe de Marcelo vinha denunciando o envolvimento de policiais numa quadrilha de roubo a caixas eletrônicos; e agora: sua memória poderá vir a ser resgatada?
247 - Num rito sumário e sem qualquer chance de defesa, Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini foi transformado num bárbaro assassino. Apontado pela polícia civil de São Paulo como o principal suspeito da morte dos pais, da avó e da tia-avó, antes de, segundo a versão oficial, se suicidar, o garoto de apenas 13 anos e olhar doce perdeu também o direito à própria memória. Será lembrado como o jovem transtornado que, ainda segundo a polícia, pretendia se transformar num matador de aluguel.
Eis as evidências apresentadas pela polícia: (1) Marcelo teria dirigido o carro da mãe, no dia do crime; (2) teria confessado o plano de se tornar assassino de aluguel a um amigo adolescente (de idade não revelada); (3) teria sido filmado com uma mochila com as armas do crime.
Como Marcelo foi condenado e não está mais aqui para se defender, a imprensa comprou a versão da polícia e exibiu sua imagem sem a tarja usada para proteger a imagem de crianças e adolescentes.
Menos de 24 horas depois, no entanto, as evidências apresentadas pela polícia de São Paulo começam a ficar enfraquecidas.
Nesta quarta-feira, a polícia admitiu não ter imagens que comprovem que o jovem Marcelo estaria dirigindo o carro da mãe. "Pelas imagens, vemos apenas que é uma pessoa de camiseta branca e que passa calmamente com o veículo", disse o delegado Itagiba Franco, o mesmo que apontou o garoto como o principal suspeito. "Mas outras imagens mostram o Marcelo saindo de onde o carro foi estacionado, com uma jaqueta, camiseta branca e mochila nas costas", completou.
O fato mais grave, no entanto, foi apontado pelo coronel Wagner Dimas, que disse duvidar do envolvimento de Marcelo. Nesta quarta-feira, em entrevista à Rádio Bandeirantes, ele afirmou que a policial militar Andréia Pesseghini, mãe de Marcelo, havia denunciado o envolvimento de policiais numa quadrilha ligada ao roubo de caixas eletrônicos. Em nota, a polícia negou que Andréa tivesse registrado qualquer denúncia formal. Mas a pressa em apontar uma criança de 13 anos, já morta, como responsável pelo crime, também coloca em xeque a versão da polícia. Especialmente em São Paulo, onde, recentemente, diversos delegados foram afastados por envolvimento com o tráfico de drogas.
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